domingo, 29 de agosto de 2004

Da série "A gestação de um chofer" - Capítulo 3

"Crash", romance de J. G. Ballard, conta a história de pessoas que tiveram suas vidas mudadas após sofrerem acidentes de trânsito. No livro, a batida tem o poder de revelar ao motorista o verdadeiro caráter do seu carro, que deixa de ser apenas um bem para se tornar uma nova dimensão do seu corpo, com "novas possibilidades sexuais a serem exploradas". A ênfase sexual vem da cópula metafórica que carros praticam no instante da colisão, e a partir daí as batidas, cicatrizes e ferimentos passam a ser encarados como formas de arte, fetiches que aguçam a libido de maneira até então desconhecida. Destaca-se aí a figura do Dr. Robert Vaughan, um renomado médico que de uma hora para outra é tomado por uma obsessão que envolve celebridades e acidentes, o que o faz levar um estilo de vida um tanto alternativo...

Foi bastante didático ter terminado o livro justamente quando entrava na segunda semana de aulas práticas de direção. Confesso que não me impressionei muito com ele, mas foi interessante conferir na real coisas que o cara falava sobre trânsito e veículos. E a prova prática do Detran se aproxima. Imagino que essa prova seja mais fácil do que parece, já que por lá não costumam aparecer diante dos postulantes à carteira obstáculos como cortejos fúnebres, ônibus, buracos, motoqueiros arrojados, gente pensando que tá na sala de sua casa...

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Crônico percurso de um revés


que assim morreu. Em poucos minutos, a inundação da traquéia o sufocara. Só que antes do baque no nada e do escuro depois da náusea, o sangue fluiu por onde achou caminho e a pressão chegou a zero. Para ele, os gritos de Nina se foram como vieram, mudando a intenção. Ainda em cima dela, antes não havia mundo, não havia nada, só a pulsão desmedida quebrada pela dor que lhe devolveu à Terra. O ardor do projétil incandescente no pulmão, e antes no músculo, conseguiu ser maior que o calor da pele dela, em pleno gozo, e das marcas que unhas dela fizeram, em suas costas. O disparo, o estalo, o chute na porta, ele não ouviu nada disso em meio ao ranger da cama e dos seus dentes.

Não tinha ouvido também os passos subindo as escadas, nem o carro entrando na garagem, nem o portão sendo a aberto, nada. Descuido? Ele vinha se descuidando havia muito tempo, e não tardou pro Adalberto armar o flagrante se baseando no que os vizinhos já viam sem esforço. "Eu quero é que esse povo se dane!", foi o que Cristóvão disse na tarde anterior, enquanto se despedia de Nina. Esta, sábia e temerosa, sabia que até autoconfiança demais era veneno, apesar de ceder à inconseqüência de Cristóvão desde o primeiro dia. Para ele o que importava era "estar aqui agora, celebrando o amor e a vida", e

quinta-feira, 12 de agosto de 2004

Do Pensar Enlouquece, Pense Nisso

Essa eu vi no Pensar Enlouquece, Pense Nisso:

2. Em meados dos anos 80, a Semana do Presidente (boletim exibido entre quadros do Silvio Santos dedicado a acompanhar as atividades dos presidentes) passou a ser precedida por uma vinheta que exibia um homem personificando Jesus Cristo. Enquanto seu rosto era exibido sob uma discreta penumbra, uma voz narrava o seguinte texto:

"Paz, amor, fé, união, luz e esperança não são apenas palavras. Você tem certeza de que já fez tudo que podia pelo seu semelhante? Pense bem, pois um dia vamos nos encontrar. E eu gostaria muito de chamá-lo de meu filho".

Muitas crianças dessa época têm pesadelos até hoje com esse texto, e juram que o ator que interpretava Jesus dava uma piscadela no meio dessa vinheta.

Essa geração dos anos 80 sofreu bastante. Era o Fofão, a zebrinha da Loto, aquela chamada do plantão da Globo, era isso...

domingo, 8 de agosto de 2004

A nossa política

"A nossa política é a do bom humor. Todas as pessoas sérias foram assassinadas. Nós queremos ser os palhaços do mundo". (John Lennon)

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...