domingo, 19 de março de 2006

Sergipe, mas tome um ônibus

NOTA: o texto a seguir não pertence ao proprietário do blog. Foi escrito pelo dono deste, que preferiu fornecê-lo dada a relação entre a temática do mesmo e um traço conceitual daqui do blog.

A direção

Sergipe, mas tome um ônibus

Em Aracaju, todos os ônibus são circulares. Isso não quer dizer que todos os ônibus passam em todos os pontos da cidade, mas que eles descrevem um itinerário fixo, sem volta. Ou seja, eles não passam duas vezes (uma de ida e outra de volta) no mesmo lugar.

Aracaju é o sistema mais eficiente de transporte público que eu já vi em uma cidade. E, embora a frota não seja tão nova quanto a de João Pessoa, nem a passagem tão barata (R$ 1,45 em João Pessoa; R$ 1,55 em Aracaju), é bem mais funcional. Muito pelo fato de a cidade contar com cinco terminais de integração.

É possível ir de qualquer ponto da cidade para qualquer outro ponto pagando apenas uma única passagem. Mas, diferente de João Pessoa, você não precisa ir até um terminal de integração situado no fim do itinerário dos ônibus, porque os cinco terminais estão bem espalhados nos 174 quilômetros quadrados da cidade. Com um sistema tão eficiente assim, não são necessários meios alternativos de transporte, como as motos-táxi de Campina Grande, ou as peruas alternativas de Maceió.

Os terminais de integração são administrados pelas próprias empresas concessionárias de transporte público; a prefeitura não tem ônus algum. A eficiência do sistema de transporte faz com que o automóvel seja menos usado, o que descarta engarrafamentos na cidade. É preciso dizer também que a cidade é, em sua maioria, planejada. O Centro, por exemplo, tem esquinas a cada 100 metros; e o relevo da cidade foi aplainado, o que facilitou a construção de ruas e avenidas.

O segredo de Aracaju, além da pequena população - cerca de 500 mil habitantes -, é que os ônibus têm itinerários curtos. Assim, eles passam mais rápido nos pontos, evitando a aglomeração de passageiros. Dessa forma, dificilmente os ônibus lotam. Os 1376 ônibus da capital sergipana são assim mais que suficiente.

Dados:
João Pessoa tem 211 Km², cerca de 661 mil habitantes e 856 ônibus em sua frota, com um terminal de integração.
Campina Grande tem 621 Km², cerca de 377 mil habitantes e 615 ônibus.
Maceió tem 511 Km², cerca 904 mil habitantes e 1437 ônibus.
Aracaju tem 174 Km², cerca de 500 mil habitantes e 1376 ônibus, com cinco terminais de integração.

sábado, 4 de março de 2006

Primeiras impressões do intercâmbio


(Um post ao estilo Gio)

Há pouco mais de duas semanas estou vivendo entre João Pessoa e Campina Grande. Não, não está sendo horrível. Campina Grande até que é uma cidade muito curiosa, dá pra se divertir com algumas "peculiaridades".

A começar pelo sistema de ônibus. Louco é a melhor forma de qualificá-lo. A cidade, em si, é pequena, mas o trajeto dos ônibus escassos torna as distâncias três vezes maiores. A sensação é que você sai da cidade várias vezes quando se quer ir ao centro ou à rodoviária, por exemplo. O que deixa isso mais paradoxal é que de praticamente qualquer ponto da cidade é possível ver os seus limites, o fim da zona urbana, lá no sopé dos montes da Serra da Borborema, por onde sobem ramagens verdinhas. Lembra até um pouco o Condado dos Hobbits de Tolkien. É como se a cidade tivesse sido construída dentro de uma cuia, ou de uma cratera, para usar um termo mais geológico. Aí você pensa: "se a cidade só vai até ali, como é que esse ônibus já passou por tantos lugares diferentes e não chegou ao meu destino?". Tem dessas.

Na infância eu passei várias férias em Campina Grande e lembrava apenas que havia lá um mormaço durante dia. Mas o que é uma palavra - "mormaço" - diante do fato de estar lá, debaixo do sol, ao meio-dia? Nada. Não é nada diante daquele calor miserável que faz lá entre onze da manhã e quatro da tarde. É quase intolerável. Só agora sei a que García Márquez se refere quando fala em seus livros coisas como "ao meio-dia a cidade afunda no torpor" ou "pessoas fazendo a sesta na rua" ou ainda "a reverberação da tarde". Creio que por ser no pé da serra, a cidade fica mais pertinho do céu, e do Sol, logicamente. Mas o que deve mesmo contribuir pra essa quentura dos infernos é a quase inexistência de árvores robustas e de copas frondosas. Em Campina os postes reinam absolutos.

Quem também reina lá são os cavalos. É impossível percorrer a cidade e não ver um cavalinho sequer. Um dia eu contei cinco, da universidade para casa. Mas Campina também tem outro xodó: a motocicleta. Tamanha a popularidade do veículo na cidade que até um serviço de moto-taxi criaram por lá. E, com efeito, se há motos, há acidentes de motos, todos os dias, e nos mesmos trechos. Ter caído de moto em Campina é como ter sido mordido por tubarão em Boa Viagem ou ter câncer em Chernobyl. Batata.

Outro traço peculiar, talvez típico de cidades pequenas, é que qualquer crime mais bárbaro que ocorra lá ou nos arredores vira assunto geral na semana. Nas ruas, calçadas, pontos de ônibus, onde quer se vá, o crime está sendo amplamente comentado e melhor: com uma proximidade assustadora. Os participantes dos crimes, seja vitima, seja executor, é sempre parente, conhecido, vizinho, colega de escola etc. Falando assim até parece que Campina Grande é uma cidade ultra-violenta. Pode até ser, mas em duas semanas, ninguém nem olhou feio pra mim.

Morada

Quando os homens chegaram , encontraram Dona Lourdes na cozinha, sentada à mesa. A idosa olhava para o quintal, indiferente às grossas rach...